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“Bolsonaro está atrasando os trabalhos que já poderiam estar sendo feitos”, diz Romeu Zema, que admitiu ser candidato à presidência

Governador descarta ser vice ou disputar vaga no Congresso

A entrevista concedida por Romeu Zema ao jornal O Globo revela não apenas suas aspirações políticas para 2026, mas também as contradições e desafios que sua trajetória e postura trazem para a construção de uma candidatura presidencial pela direita. A análise de suas declarações destaca três pontos cruciais:

A indefinição sobre Jair Bolsonaro e os impactos na direita

Zema reconhece que a espera por uma reversão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro trava os esforços do campo político para articular uma candidatura viável. “Essa indefinição sobre ele ser ou não candidato, com toda certeza, acaba postergando essa decisão e o trabalho que já poderia estar acontecendo”, afirmou.

Essa dependência de Bolsonaro expõe a fragilidade da direita em diversificar suas lideranças nacionais. Enquanto Zema se posiciona como um nome “viável”, outros possíveis candidatos, como Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado, demonstram hesitação em romper com o legado bolsonarista, refletindo uma dificuldade em redefinir estratégias sem o ex-presidente como figura central.

Gestão de Minas e críticas ao governo federal

O governador mineiro destacou o ajuste fiscal em Minas Gerais como exemplo de austeridade e eficiência administrativa, afirmando ter reduzido a folha de pagamento de 67% para 49% do orçamento estadual. Zema também fez críticas indiretas ao governo federal, citando o “inchaço” ministerial e o uso de recursos públicos para viagens internacionais.

Entretanto, sua posição sobre o Perse — programa criado para socorrer o setor de eventos durante a pandemia — gerou surpresa. Ao demonstrar desconhecimento sobre a medida, Zema afirmou ser contra subsídios setoriais, defendendo que a competição é o melhor mecanismo para eficiência econômica. Essa visão pode ser bem recebida por empresários, mas revela um distanciamento de políticas de apoio setorial que foram fundamentais em momentos de crise.

Desafios de Zema como candidato nacional

Apesar de sua gestão em Minas Gerais ser elogiada por aliados, Zema enfrenta barreiras significativas para se consolidar como uma liderança nacional. Seu histórico de “outsider” político, ainda que atraente para eleitores insatisfeitos, contrasta com a necessidade de construir alianças robustas no cenário nacional.

Além disso, sua posição de cautela em temas polêmicos, como o indiciamento de Jair Bolsonaro pela Polícia Federal, reflete uma tentativa de agradar a diversos públicos. “Se há suspeita, que seja investigado. Quem não deve, não teme”, declarou, sem tomar uma posição clara sobre o caso.

Zema também parece hesitante em definir caminhos definitivos para a construção de alianças. Questionado sobre a possibilidade de ser vice em uma chapa ou sobre a divisão da direita em Minas Gerais, respondeu de forma genérica, ressaltando que “na política, tudo é possível”.

Considerações finais

Embora Romeu Zema se apresente como uma alternativa viável para a direita em 2026, sua projeção nacional depende de superar desafios significativos. A indefinição sobre Jair Bolsonaro, seu perfil técnico e administrativo — por vezes desconectado de políticas públicas amplas — e sua limitada experiência em articulações políticas nacionais podem dificultar sua consolidação como uma liderança competitiva.

Por outro lado, seu discurso de eficiência, austeridade e ética pode ressoar entre eleitores que buscam uma alternativa ao atual cenário político polarizado. Contudo, será necessário mais do que boas intenções administrativas para transformar o governador mineiro em um presidenciável de peso.

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