Fernando Haddad, “o coveiro” da reeleição do governo Lula
O Banco Central decidiu aumentar a taxa de juros. A decisão partiu de uma diretoria do BC com nomes indicados pelo próprio Haddad, incluindo o presidente Gabriel Galípolo
A gestão econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem gerado intensos debates dentro e fora do governo. Considerado por muitos como o herdeiro político do presidente Lula, ele também é visto como um possível coveiro á reeleição do padrinho político em 2026. Se, em 2022, o fracasso de Paulo Guedes ajudou a ressuscitar Lula politicamente, agora Haddad podem impulsionar um retorno do bolsonarismo ao poder.
Selic e inflação: o dilema do governo
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa Selic foi elevada para 13,25% ao ano, um aumento de um ponto percentual. Essa foi a segunda alta consecutiva nessa magnitude, e a decisão partiu de uma diretoria do Banco Central com nomes indicados pelo próprio Haddad, incluindo Gabriel Galípolo, que comandou a reunião. A medida tem o objetivo de conter a inflação, que fechou abaixo de 5% em dezembro, mas impacta diretamente o crédito, encarecendo empréstimos e financiamentos para pessoas físicas e empresas.
Lula, que sempre criticou a política de juros altos conduzida por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, agora se depara com um dilema: como reagir diante da mesma política sendo aplicada por um aliado, Gabriel Galípolo?
Haddad na mira: governo, mercado e oposição contra o ministro
Depois da crise gerada pela tentativa de fiscalização do Pix, Haddad se tornou alvo de críticas vindas de todos os lados. Ele foi repreendido indiretamente pelo próprio presidente Lula, enfrentou dura resistência da oposição e viu sua credibilidade no mercado financeiro despencar. Além disso, agora precisa lidar com uma queixa-crime apresentada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), agravando ainda mais sua situação.
MP “do equilíbrio fiscal” ou “do fim do mundo”
Em outubro uma tentativa de equilibrar as contas públicas, o governo anunciou um pacote de medidas para conter o crescimento dos gastos obrigatórios, projetando uma economia de R$ 70 bilhões até 2026. Entretanto, a Medida Provisória 1.227, conhecida como MP “do Equilíbrio Fiscal” pelo governo e “do Fim do Mundo” pelos críticos, enfrentou forte resistência do empresariado e do Congresso.
A MP previa arrecadar R$ 29 bilhões neste ano ao limitar o uso de créditos tributários do PIS/Cofins pelas empresas, como forma de compensar a renúncia fiscal da desoneração da folha de pagamento de 17 setores. Contudo, a pressão contra a medida foi tamanha que Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, optou por devolvê-la ao Executivo, marcando uma das maiores derrotas do governo Lula no campo econômico.
Impactos e repercussões políticas
A devolução da MP representou o primeiro grande revés na agenda econômica do governo, que até então enfrentava maiores dificuldades apenas em pautas de costumes. A resistência à “sanha arrecadatória” do governo foi tão expressiva que até setores tradicionalmente alinhados ao Planalto, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), manifestaram oposição à medida.
Diante desse cenário, Haddad se encontra em uma posição frágil. Se continuar acumulando desgastes, ele pode não apenas comprometer a gestão econômica do governo, mas também se tornar o grande entrave para a reeleição de Lula em 2026. A pergunta que fica é: o presidente seguirá apostando em Haddad ou fará mudanças na equipe para tentar reverter o desgaste.