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PF investiga falência de empresa que atuava para o TSE. CEO é acusado de simular divórcio para ocultar patrimônio

Fabío Schettino presidiu a Probank, uma empresa especializada em transmissão de dados via satélite

Fábio Abreu Schettino, CEO da Hidrovias do Brasil, se tornou um dos nomes mais celebrados do setor de transportes na América Latina. A sua liderança, destacada pela Forbes, foi fundamental para o crescimento exponencial da empresa, especialmente após a abertura de capital (IPO) em 2021, que arrecadou R$ 3,4 bilhões. A revista americana ressaltou sua habilidade em consolidar a Hidrovias como um gigante do transporte integrado, mas ao ignorar episódios polêmicos de sua trajetória.

O colapso da Probank

Antes de sua ascensão no comando da Hidrovias, Schettino presidiu a Probank Telecomunicações, uma empresa especializada em transmissão de dados via satélite. Em 2011, a companhia entrou em recuperação judicial e 2013 teve o pedido de falência, aceito pela justiça deixando um passivo de cerca de R$ 500 milhões. Este colapso financeiro gerou um impacto devastador sobre credores, trabalhadores e parceiros comerciais, além de desencadear um inquérito da Polícia Federal, que investiga suspeitas de falência fraudulenta.

A transferência de ativos da Probank para outras empresas do mesmo grupo, como a Transat, levanta sérias questões sobre a transparência dessas operações. Esse episódio, que aparentemente passou despercebido pela Forbes, não pode ser descartado ao analisarmos a trajetória de Schettino.

Movimentos patrimoniais: o “divórcio estratégico”

Outro ponto controverso na trajetória de Schettino envolve suspeitas de manobras patrimoniais realizadas por ele e sua esposa, Patrícia Campos, durante o processo de falência da Probank. O que parecia ser um divórcio estratégico para evitar problemas legais acabou levantando suspeitas, já que todos os bens foram transferidos para esposa. Mesmo com a separação formal, o casal continuou morando junto em uma mansão de luxo em Valinhos (SP), em nome de Patrícia o que levanta questionamentos sobre as reais intenções dessa separação.

Eles são suspeitos de terem arquitetado um divórcio simulado com o objetivo de ocultar seu patrimônio e transferir todos os bens para a esposa. A estratégia, segundo especialistas, pode ser uma manobra para proteger os bens de uma possível ação judicial relacionada às dívidas do Grupo Probak.

O casal, que até recentemente alegava estar em processo de separação, aparentemente não passou por um rompimento formal. Ambos continuam morando juntos em um condomínio de luxo em Valinhos (SP), localizado em um imóvel registrado em nome de Patrícia. Além disso, em suas redes sociais, frequentemente se apresentam como um casal unido, com declarações de afeto e convivência de casal.

O que seria apenas uma divergência pessoal, ganha contornos jurídicos e financeiros quando se considera a possibilidade de o “divórcio” ter sido uma fachada para evitar o bloqueio dos bens pela justiça, especialmente no contexto das dívidas milionárias que o Grupo Probak enfrenta. A estratégia seria uma tentativa de preservar o patrimônio do executivo, transferindo-o para a “ex-esposa”, mas mantendo, na prática, uma convivência como se nada tivesse ocorrido.

O sucesso da Hidrovias e o contraste com o passado

Apesar dessas controvérsias, Schettino é atualmente reconhecido como um dos líderes mais influentes do Brasil, à frente de uma empresa avaliada em mais de R$ 2 bilhões. Sob sua liderança, a Hidrovias do Brasil se consolidou como uma referência no setor de transporte hidroviário da América Latina. No entanto, a ausência de um patrimônio formalmente declarado, mesmo comandando uma empresa desse porte, só amplia as dúvidas sobre sua trajetória. Esse contraste entre o sucesso empresarial e um passado marcado por sombras éticas coloca em evidência uma questão pertinente: até que ponto o reconhecimento de suas vitórias pode ofuscar os erros cometidos?

A Probank: tecnologia de satélites e semelhanças com a Starlink

A Probank se destacou por fornecer serviços especializados de transmissão de dados via satélite, especialmente para órgãos governamentais e grandes empresas. Entre seus principais clientes, a empresa era responsável pela transmissão de dados do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) durante as eleições. Este modelo de negócios, centrado em uma tecnologia essencial para garantir conectividade em regiões remotas, guarda semelhanças com a Starlink, empresa de Elon Musk, que também utiliza satélites para levar internet a lugares de difícil acesso.

No entanto, enquanto a Starlink tem um apelo global, oferecendo seus serviços a consumidores e empresas ao redor do mundo, a Probank se concentrava em uma clientela mais restrita, focada principalmente no governo e grandes empresas brasileiras. Essa diferença de foco revela a importância estratégica da Probank para o Brasil, especialmente no que diz respeito à comunicação governamental crítica.

Schettino informou que teve uma breve passagem pela Probank, no período de  maio de 2009 a agosto de 2010, período este que antecede em 3 anos da falência.

“Importante mencionar que apenas atuei como administrador há época e nunca fui sócio da empresa, sempre conduzindo minhas responsabilidades determinadas pelo mandato de administrador, com ética e integridade, valores que me acompanham na vida e em toda a minha carreira”, disse.

Ele disse ainda que sempre se manteve à disposição para prestar os esclarecimentos que me competiam à época, na posição de CEO (não sócio) após a decretação de falência, ocorrida em 11 de setembro de 2013.

 

Rodrigo Lopes

Rodrigo Lopes trabalhou na TV Record, O Globo, Correio Braziliense, Hoje em Dia, Jornal do Brasil, IstoÉ e Estado de Minas. Foi vencedor do Prêmio Esso e do Prêmio Vladimir Herzog, com salário dos deputados estaduais em 2001 pelo Jornal Estado de Minas, e ganhador do Prêmio Esso Mensalão Tucano em 2005 pelo O Globo

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