Relatório divulgado pelo Comitê de Assuntos Judiciários da Câmara dos Estados Unidos, dominado por apoiadores de Trump, foi uma tentativa da extrema-direita de provar que o Brasil está sob um regime de “censura agressiva”, como afirmou Elon Musk, dono da antiga rede social X, conhecida como Twitter. Porém, um levantamento do Intercept Brasil mostrou que muitas contas restringidas já voltaram ao ar, e algumas até ganharam mais seguidores.
Em ao menos 11 delas, teve ganho significativo de seguidores. Ao todo, as contas de políticos e apoiadores bolsonaristas que voltaram à ativa têm mais de 13 milhões de seguidores.
A variação do número de seguidores de 13 contas que já voltaram ao X, 11 perfis tiveram um acréscimo somado de mais de 300 mil seguidores.
O destaque é o influenciador Ed Raposo, que quase dobrou: saiu de 155 mil e foi para 291,8 mil seguidores. Suas postagens seguem a linha de violência política da cartilha da extrema direita. No dia 20 de abril, por exemplo, publicou, logo pela manhã: “Preparado para mais um dia de guerra contra esquerdistas perturbados”.
O tom não é muito diferente do que publicava antes do bloqueio determinado pelo STF. “Se o TSE não aceitar, entra em ação o poder moderador”, publicou, por exemplo, depois do segundo turno da eleição presidencial.
Pelo menos 14 contas com mais de 500 mil seguidores já voltaram ao ar
Além de Raposo, outras contas surfaram no discurso da perseguição para aumentar suas bases de seguidores. O ativista Adrilles Jorge teve aumento de 89,6 mil seguidores desde que retornou ao X, consolidando-se como uma voz influente na plataforma, cada vez mais próximo da marca de 1 milhão de seguidores, com 990,6 mil seguidores.
Outro perfil que ganhou considerável destaque foi o do ativista Flávio Gordon, com um aumento de 43.700 seguidores desde sua volta, totalizando agora 231.400 seguidores.
No Brasil foram determinaram o bloqueio de 140 contas no X. A título de comparação, um ano depois do Capitólio, os Estados Unidos já tinham bloqueado 150 mil contas do Twitter. Ou seja, o levantamento mostra que as contas bloqueadas por razões políticas no Brasil são 0,1% do que foi feito nos EUA. Entre elas, 22 já voltaram à ativa na plataforma com aval da Justiça, sendo 14 delas de grande porte, com mais de 500 mil seguidores.
Entre as que seguem banidas, estão apenas duas ligadas a parlamentares, a do senador Marcos do Val, a @MarcosDoVal, e a do deputado federal Gustavo Gayer, o perfil @GugaGayer, — este último, porém, já atingiu mais de 1 milhão de seguidores em uma nova conta, a @GusGayer.
A alegação de que parlamentares com mandato estariam sendo censurados apareceu diversas vezes nas alegações de Musk. Mas a realidade mostra que o banimento das contas de congressistas foi temporário.
Entre as contas que já retornaram ao Twitter com o perfil original, sem precisar mudar de nome como Gayer, estão os deputados federais do PL, Nikolas Ferreira (MG), Major Vitor Hugo (GO), Otoni de Paula (RJ) e Carla Zambelli (SP), além de Marcel Van Hattem, do Partido Novo (RS).
Van Hattem, escreveu o seguinte no X, sobre Moraes, na semana passada: “O ditador faz o AI-5 parecer brincadeira de criança”, em referência ao ato institucional mais brutal da Ditadura Militar.
O deputado do Novo não é o único das mais de duas dezenas de contas que retornaram à plataforma e que seguem disseminando desinformação, com postagens que tentam minar a confiança nas instituições democráticas.
“Estamos sob a égide do AI-6, mais moderno, mais robusto e infinitamente mais poderoso”, escreveu, em 29 de abril, outra das contas que voltou à rede, a do deputado federal José Medeiros, do PL do Mato Grosso. “Cadelinha da ditadura”, publicou recentemente a influenciadora Paula Marisa. Os dois foram banidos da rede social, mas as decisões foram revertidas.
Na lista, há ainda influenciadores de amplo alcance, como Bárbara Destefani e Paula Marisa, e o pastor André Valadão, da Igreja Lagoinha, de Minas Gerais. Uma das principais tônicas das postagens são as acusações do suposto regime de censura. A estratégia tem dado engajamento.
O levantamento ainda revela aspectos contraditórios da cruzada de Elon Musk e da extrema direita brasileira a favor da liberdade de expressão. Três perfis, que estão suspensos por violação de regras da própria plataforma, e não por decisão da Justiça. Entre eles, estão duas contas de apoio ao ex-deputado federal Daniel Silveira, a @DanielFederal e a @ApoioSilveira, e a de Leandro Gustavo Fox, um bolsonarista de Goiás.
Nesses casos, em vez da mensagem de que os perfis estão retidos em função de medidas judiciais, o X informa que as contas estão suspensas e explica: “O X suspende as contas que violam as Regras do X”.
O fato é curioso porque as contas estão entre as que são apontadas por Musk como “censuradas”. Mas, na realidade, é sua própria empresa que mantém o banimento dos perfis.