O mistério por trás do assassinato de um colega de Getúlio Vargas. O segredo obscuro de sua juventude em MG

Testemunha chave, Walfrido dos Mares Guia, afirmou que Getúlio efetuou tiros que resultaram na morte do inimigo. Irmãos assumiram a autoria do crime

Um processo de quase 400 páginas, escrito com caneta tinteiro, revela um assassinato em que suspeito ter cometido foi o ex-presidente Getúlio Dornelles Vargas e seus dois irmãos mais velhos, Viriato e Protásio, até o momento desconhecido pela maioria dos brasileiros. O crime, que envolveu grandes figuras da história política brasileira, como Antônio Augusto de Lima (ex-governador de Minas), Júlio Castilho (governador Rio grande só sul) e Walfrido dos Mares Guia, aconteceu em sete de junho de 1897, em plena transição da capital mineira de Ouro Preto para Belo Horizonte.

Ouro Preto era referência em educação no país. Nesse período, era comum que alunos saíssem de outros estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, para irem estudar em Minas Gerais. Assim, o adolescente de apenas 14 anos, Getúlio Vargas, que foi presidente do Brasil por 15 anos, e seus irmãos mais velhos vieram estudar na cidade mineira.

Getúlio era recém-chegado quando os irmãos Vargas provocaram uma briga entre os moradores da República dos Gaúchos com a República dos Paulistas, que resultou na morte, do estudante de direito Carlos Almeida Prado Júnior.

Toda a confusão entre os estudantes começou na Rua do Rosário, da antiga Vila Rica. Os irmãos Viriato, Protásio e Getúlio Vargas foram ridicularizados pelo grupo paulista, em frente à Escola de Farmácia, na Praça Tiradentes. Inconformados, eles decidiram ir à forra e juntaram a turma de gaúchos.

Após dois dias de procura, os irmãos Vargas encontraram os paulistas. Um deles, era Carlos de Almeida Prado Júnior. Interpelado, o paulista recusou a se retratar das ofensas que teria feito aos Vargas. Os ânimos esquentaram e ocorreram os primeiros pescoções.

O segundo confronto entre os estudantes aconteceu na noite do mesmo dia. Depois de muitos pescoções, os dois lados sacaram as armas e começou o tiroteio. Carlos de Almeida Prado Júnior foi atingido com dois tiros no peito, morrendo três dias depois. Na confusão, o irmão mais velho do ex-presidente, Viriato Vargas, também foi atingido no braço. Os estudantes gaúchos deixaram às pressas o local e trataram de desaparecer.

Começou, então, uma perseguição policial. Todos os lugares e repúblicas de estudantes que tivessem nativos do Rio Grande do Sul foram revistados. Uma prisão acabou acontecendo; foi a de Protásio Vargas, quando ele tentava embarcar, na Estação Ferroviária de Tripuí, em Ouro Preto. Mas, Protásio foi solto um tempo depois por decisão do juiz Antônio Augusto de Lima, já que inúmeras testemunhas não o reconheceram. Pelo mesmo motivo, ele sequer chegou a ir a julgamento. Já Getúlio e Viriato Vargas fugiram e se esconderam numa fazenda em Jaboticatubas, na Serra do Cipó, na grande BH.

O também estudante de direito Walfrido Mares Guia (avô do empresário e ex-vice-governador de Minas) foi testemunha de acusação no processo e um dos poucos a comparecerem à audiência. Em depoimento, ele relatou que o autor dos disparos teria sido o irmão menor de Viriato Vargas: “No dia do conflito, estava presente Viriato e seu irmão menor. Eu e meus companheiros de casa nunca ouvimos falar que Protásio (irmão do meio de Getúlio) estivesse presente na ocasião dos tiros. Quem estava lá era o Viriato e o seu irmão menor (Getulio)”, afirmou Walfrido.

O processo instaurado pelo juiz substituto Alfredo da Costa Guimarães, que decretou a prisão dos irmãos Vargas, depois foi transferido para o titular da Vara e presidente do Tribunal do Júri, o magistrado e político Antônio Augusto de Lima. Após receber a visita do pai dos acusados, o general Manoel Nascimento Vargas, que comandou a guerra contra o Paraguai em 1864, e de Júlio Castilho, governador do Rio Grande Sul, o processo tomou outro rumo, e o juiz Augusto de Lima encerrou a ação sem o julgamento dos réus, uma vez que os mesmos, por estarem foragidos, não foram intimados.

Além disto, várias testemunhas de acusação não compareceram à audiência de julgamento. O juiz ainda sentenciou o pai da vítima e autor da queixa, Carlos Vasconcelos de Almeida Prado, a pagar toda custa judicial, inclusive a diligência policial. Por ser menor de idade, Getúlio não foi pronunciado no inquérito.

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