O mistério da compra de Ronaldo pelo Cruzeiro: precisa de uma grande investigação

Filho de lavrador e carregador de caixas de supermercados, Pedrinho fundou o Supermercados BH em 1996. Estimativa mostra que ele tenha um patrimônio de R$ 9 bilhões

 

A situação da SAF do Cruzeiro está dando o que falar. Ronaldo Fenômeno comprou o clube por R$ 400 milhões, mas até agora não pagou tudo: deu apenas R$ 50 milhões na hora e prometeu o resto ao longo de cinco anos, usando a própria grana que o Cruzeiro arrecadaria.

Parece-me com a história de um amigo, que não tinha recursos suficientes para investir na sua empresa e começou a perder rendimentos. Ele viu a concorrência crescer, transferiu seu negócio para um terceiro, que também não tinha dinheiro e que vendia o almoço para comprar o jantar. Ronaldo também não prometeu investir, apenas usar o nome.

O “inquilino” do meu amigo não conseguia vender bem durante o almoço, então, não comprava o jantar. Depois de alguns meses, o negócio – que sustentou uma família de quatro filhos por mais de 30 anos – entrou em crise e foi devolvido para o proprietário original devendo fornecedores e funcionários.

Voltando ao Cruzeiro, Pedro Lourenço não se manifestou pela compra do clube em  dezembro 2021, ou será que não deixaram ter a oportunidade de oferecer a sua proposta, assim como outros que tinham interesse em controlar a Raposa? Afinal, as propostas não foram públicas?

Anos depois do fracasso, Ronaldo vendeu o clube para o “Pedrinho BH” por R$ 600 milhões. O site Vai Na Fonte, um consórcio de jornalistas investigativos especializados em apurar mutretas, está de olho nesses negócios estranhos.

Meu amigo fez um péssimo negócio, mas pelo menos era coisa dele. Já o Cruzeiro Esporte Clube e o Clube Atlético Mineiro são de interesses públicos. Quando os clubes são investigados pelas autoridades, os cartolas afirmam ser empresas privadas, mas quando estão na pior, alegam que são de interesse do povo.

O procurador Eduardo Nepomuceno, torcedor do Atlético-MG, percebeu essa manobra nas investigações que abriu contra o Cruzeiro e o Galo. Os dois clubes insistiam ser privados e que, por isso, não precisavam dar satisfações, mas queriam ser tratados como entidades públicas quando a coisa apertava. Os clubes recorreram à Justiça para barrar as investigações abertas pelo Ministério Público. Durante muitos anos, Eduardo causou desespero em políticos, dirigentes esportivos e empresários.

Corporações particulares não têm a obrigatoriedade de promover um processo licitatório, porém conglomerados, como os Supermercados BH e a empresa de construção MRV analisam propostas de ao menos três fornecedores antes de fecharem contratos. Ao que tudo indica, Cruzeiro e Atlético não demonstraram interesse nessa transparência.

Assine nossa Newsletter Matérias exclusivas na sua caixa de entrada.

Agora você ter acesso a reportagens exclusivas produzidas por
premiados jornalistas investigativos.